“Estabilidade” é um assunto relevante para a comprovação de segurança e eficácia de dispositivos médicos. Quando falamos de aprovação de um produto pela Anvisa, é um assunto obrigatório de acordo com a RDC 751/2022 (Capítulo 3 do Dossiê Técnico), bem como na recém publicada RDC 848/2024. O mesmo vale para outros reguladores do mercado de dispositivos médicos ao redor do mundo. Porém, as preocupações e conceitos referentes à comprovação da estabilidade dos dispositivos médicos, em especial dos implantes cirúrgicos (que são o tema deste post), são dinâmicos. Novas evidências e especificidades são encontradas ao longo dos anos, e uma atualização de conceitos é sempre relevante. Podemos trabalhar o conceito de Estabilidade da seguinte maneira. Se o projeto de um implante cirúrgico e os seus processos de fabricação forem realizados adequadamente, há uma grande probabilidade de que o dispositivo funcionará conforme desejado logo após a sua fabricação. No entanto, existem muitos fatores naturais que podem afetar a capacidade do dispositivo de desempenhar plenamente a função pretendida ao longo do tempo. A capacidade do produto de continuar desempenhando a sua função pretendida com segurança e eficácia ao longo do tempo de prateleira, o que contempla o seu prazo de validade, é o que podemos relacionar com a “Estabilidade”. É importante notar que a manutenção da esterilidade de produtos vendidos estéreis é um fator muito importante na comprovação da Estabilidade, mas está longe de ser o único. A nova revisão da norma ISO 14630, aplicável a todo e qualquer implante cirúrgico, estabelecerá a necessidade de estabelecer uma data de validade para todo e qualquer implante, indiferentemente se vendidos estéreis ou não estéreis. Para definir as condições de armazenamento projetadas e realizar um gerenciamento de riscos apropriado, é necessário considerar todos os fatores que podem levar à alteração do produto em relação ao seu estado logo após a sua fabricação, e assim afetar a sua segurança e desempenho. Esses fatores podem ser químicos (degradação de componentes ou de embalagens), físicos (alteração de aparência, viscosidade, resistência mecânica), microbiológicos, clínicos, relacionados à biocompatibilidade e até mesmo extrínsicos, como por exemplo a temperatura e à umidade que o produto e sua embalagem serão submetidos. No caso do Brasil, de zona climática tropical úmida, as temperaturas e umidades serão maiores do que na Europa e nos EUA, por exemplo. Há muitos fatores ainda, os fatores citados não se configuram em uma lista exaustiva. O fabricante deve elaborar um protocolo para o estudo de estabilidade. O escopo de produtos que é objeto do estudo deve ser formalizado. Neste protocolo, o fabricante deve definir as condições projetadas de armazenamento do produto. Atualmente, a comissão da ABNT responsável está trabalhando em uma nova norma sobre estabilidade de implantes cirúrgicos. O coordenador responsável pela comissão, Heitor Korndorfer, que é o CEO da MSC MED, está à disposição para esclarecer eventuais dúvidas e aberto para novos imputs sobre o tema. Entre em contato para se envolver no projeto e conte com a MSC MED para auxiliar com estudos de Estabilidade. Heitor: comercial@mscmed.com.br (e-mail)ABNT CB-26: cb-026@abnt.org.br (e-mail)
Mudanças na Norma ISO 21535 | Prótese de Quadril
Foi publicada uma nova versão da Norma ISO 21535, sobre implantes para substituição de quadril, com grandes alterações. Estamos prevendo um grande impacto, dentre eles a potencial necessidade da realização de ensaios que antes não eram obrigatórios, tais como: Ensaio de Fadiga de componente acetabular Ensaio de desgaste com envelhecimento prévio do polietileno Ensaio de desgaste com mal posicionamento Ensaio de desgaste com corpo estranho Ensaio de desgaste com cabeça femoral rugosa Ensaio de torque de fricção A forma de avaliação dos resultados dos ensaios também mudou, pois agora a norma traz uma priorização em relação à escolha por critérios de aceitação: #1 teste lado a lado (implantes são testados em paralelo sob condições idênticas);#2 comparação dos resultados dos ensaios efetuados no implante em avaliação com os resultados dos ensaios efetuados anteriormente num implante de referência. Atenção! Os mesmos critérios já estão sendo aplicados na norma ISO 21536, para próteses no joelho e ainda esse ano a norma ISO 14630 – que abrange todo e qualquer implante cirúrgico – deve adotar o mesmo esquema lógico. Portanto, somente após a realização de pelo menos uma das comparações citadas anteriormente, a segurança e o desempenho do implante ainda podem ser demonstrados por meio de: Um raciocínio biomecânico, que inclua uma análise aprofundada das cargas in vivo e das condições fisiológicas relevantes e justifique as condições de ensaio e os resultados obtidos, com um fator de segurança justificado, ou Uma investigação clínica pré-mercado, ou ambos. Fale com um de nossos especialistas, tire suas dúvidas e garanta a adequação do seu produto às normas atualizadas.
AVALIAÇÃO BIOLÓGICA – ISO10993
O termo “biocompatibilidade” pode ser definido como a habilidade de um material, ou conjunto de materiais, desempenhar sua função gerando uma resposta biológica apropriada em seu hospedeiro, em uma situação específica. A ambiguidade do termo reflete o desenvolvimento contínuo de avaliações sobre como os biomateriais interagem com o corpo humano e, finalmente, como essas interações determinam o sucesso clínico de um dispositivo médico. Segundo a regulação e a normatização atual, a determinação da biocompatibilidade de dispositivos médicos deve ser estabelecida por meio de um gerenciamento de riscos biológicos, seguindo os preceitos da norma ISO 10993-1. Esse processo é realizado por meio de uma matriz decisória que leva em conta a matéria prima do produto, os processos de fabricação, o método de esterilização, o design e as características de superfície, o local de aplicação no corpo, entre outras questões. Muitas vezes, pode ser necessário realizar ensaios biológicos, in vitro ou in vivo (em animais), de acordo com as partes aplicáveis da norma ISO 10993. Esse mapeamento é relevante para a garantia de que produtos não causem efeitos biológicos indesejáveis, como irritação e alergias, ou até efeitos mais graves, como carcinogenicidade, genotoxicidade ou toxicidade. Pode-se afirmar que a biocompatibilidade é garantida não apenas por resultados satisfatórios de ensaios pré-clínicos, mas principalmente por meio de um projeto e de processos de fabricação que controlam os riscos biológicos de forma bem documentada. A MSC MED conta com uma rede de especialistas que inclui profissionais experientes em análise de riscos biológicos para dispositivos médicos. Conte conosco.
CONSULTA PÚBLICA: AGRUPAMENTO DE IMPLANTES ORTOPÉDICOS
Recentemente, publicamos aqui dicas para agrupamento de implantes ortopédicos para fins de registro ANVISA. Conforme destacamos naquela oportunidade, algumas regras são bem específicas e estavam sujeitas à mudanças. A boa notícia é que não demorou muito. A ANVISA abriu consulta pública para determinar as novas regras de agrupamento para implantes ortopédicos para fins de registro. A RDC 59/2008 e a IN 01/2009 seriam substituídas por uma nova RDC única, cujo texto proposto encontra-se no texto da consulta pública. Entre os destaques do texto proposto na consulta pública estão a eliminação da divisão de sistemas de placas e parafusos em grandes/pequenos e mini/micro fragmentos, bem como a permissão expressa para fios de sutura ortopédica e âncoras de sutura serem registrados em conjunto com seus instrumentais insersores. Quem quiser visualizar o texto na íntegra e deixar a sua opinião pode acessá-lo no portal de consultas públicas da ANVISA. Serão aceitas contribuições até 15/06/2021.
3 dicas para registro de implantes cirúrgicos no FDA
3 dicas: Agrupamento de Placas e Parafusos para Ortopedia
Update: as regras para agrupamento de produtos em ortopedia estão em revisão, por meio da Consulta Pública nº 1042 de 08/04/2021. Implantes ortopédicos possuem regras de agrupamento especiais determinadas pela ANVISA, definidas pela RDC 59/2008 e pela IN 01/2009. Essas regras de agrupamento determinam quais produtos podem ficar agrupados em um único registro de família ou de sistema. Especificamente quanto a placas e parafusos ortopédicos, as regras são minuciosas podem confundir um pouco. Mas, cuidado! Erros de enquadramento podem ser vistos pela ANVISA como motivo para indeferimento sumário da petição de registro. Portanto, seguem abaixo três dicas para definir o enquadramento e a separação dos produtos em diferentes registros. Parafusos Canulados devem ser registrado em separado, com apenas duas exceções O principal uso de parafusos canulados em ortopedia é providenciar compressão óssea. Esse tipo de parafuso canulado é geralmente colocado no osso de maneira isolada (stand-alone), isto é, sem contato com placas ou outros dispositivos. Assim, devido às regras da IN 01/2009, eles não podem formar família com outros parafusos sólidos, e, portanto, devem ser registrados à parte. As duas únicas exceções são: a) parafusos pediculares para coluna, que podem (e devem) ser registrados em conjunto com o sistema (barras, ganchos…). b) parafusos canulados que possuem mecanismo de bloqueio, e servem para serem inseridos em furos de placas ósseas, formando um sistema bloqueado. Cuidado com a divisão entre “mini/micro fragmentos” e “grandes/pequenos fragmentos” para sistemas de placas e parafusos A IN 01/2009 determina que o diâmetro de Ø 2.7 é o tamanho de corte, sendo que sistemas de placas e parafusos de diâmetro igual ou menor que Ø 2.7 mm devem ser considerados mini/micro, enquanto sistemas maiores de Ø 2.7 mm devem ser considerados grandes/pequenos, e esses dois grupos devem ser registrados em separado. A “pegadinha” é que, se um fabricante possui um sistema de placas e parafusos, onde o parafuso tem Ø 2.7mm, a interpretação inicial é que se trata de um sistema de mini/micro fragmentos. Porém, a IN 01/2009 é clara ao estabelecer que o que vale é o diâmetro do furo na placa. Assim, se o parafuso possui Ø 2.7 mm, em geral o tamanho nominal do furo é um pouco maior do que isso (por exemplo, Ø 3.0 mm), o que faz o sistema se classificar como grandes/pequenos fragmentos. Placas / Parafusos de aço ou titânio podem ficar no mesmo registro Precisa separar o registro de placas e parafusos de aço do registro dos mesmos produtos em titânio? A resposta é: não precisam ser registros separados. A RDC 59/2008 é clara em determinar que produtos de matérias-primas diferentes precisam estar em registros separados, porém logo a seguir estabelece que a separação que deve ocorrer é entre produtos metálicos, poliméricos e cerâmicos. Assim, como aço e titânio são materiais metálicos, podem ficar no mesmo registro. Via de regra, esses produtos não são intercambiáveis (por exemplo, parafusos de aço não podem ser usados em placas de titânio, e vice-versa), porém isso não impede o registro em conjunto, já que essa questão pode ser abordada por uma tabela de compatibilidade entre os produtos objeto de registro. Por outro lado, manter registros em separado (um registro para o sistema de aço e outro para o sistema de titânio) também não é proibido, e muitas vezes é usado como estratégia comercial, já que muitos compradores usam o número de registro ANVISA como parâmetro para comparação de preços. Caso queira estabelecer uma estratégia de separação de registro para produtos em ortopedia, ou outros, faça contato conosco! *Esse post está sendo publicado em Abril de 2021, e as regras são dinâmicas e passíveis de alteração. Mantenha contato conosco para dicas atualizadas!
Revisão das Normas Técnicas de Próteses de Quadril e Joelho podem gerar impacto regulatório
Duas das principais normas técnicas publicadas pelo comitê de implantes para cirurgia da ISO (ISO/TC 150) estão entrando em fase de revisão: a ISO 21536, norma de requisitos para implantes de substituição articular de joelho, e a ISO 21535, norma de requisitos para implantes de substituição articular de quadril. Embora ainda em fase inicial de revisão (New Work Item Proposal), as mudanças desenhadas nos drafts indicam grandes alterações nos métodos de avaliação de desempenho desses dispositivos. O que muda? A principal alteração proposta pelas normas é a indicação de um método preferencial para avaliação dos resultados obtidos nos ensaios realizados nas próteses de quadril e de joelho. As primeiras versões do novo texto indicam que os resultados obtidos nos ensaios devem ser preferencialmente comparados com os resultados obtidos, no mesmo ensaio, por produtos predicados com histórico de sucesso clínico. Ambos os ensaios precisam ser realizado sob as mesmas condições, o que pode implicar na realização side-by-side, isto é, simultânea dos dois ensaios. Impacto regulatório. E financeiro também. Segundo Darlan Dallacosta, coordenador da comissão de estudos de implantes para artroplastia, do comitê odonto-médico-hospitalar da ABNT (ABNT CB-26), a mudança pode trazer grande impacto para os fabricantes. “Caso o fabricante não tenha uma versão antiga do seu produto, ou não tenha dados de pós-mercado para sustentar que há sucesso clínico para ele, além de fabricar os corpos de prova objeto de ensaio, ele também terá de comprar no mercado os produtos do concorrente e pagar por dois ensaios, o que é significativamente diferente em comparação com o que é a prática hoje, até mesmo em termos financeiros”. Além disso, deverá ser apresentada comprovação de que o produto predicado apresenta histórico de sucesso clínico o que muitas vezes não é fácil de ser obtido ou quantificado. “Essa informação está com o concorrente, que provavelmente não irá abri-la”, completa Darlan. Heitor Korndorfer, diretor da MSC MED, enxerga outros problemas na proposta de revisão como se encontra hoje. “Ao dizer que há um método preferencial de se comparar um dispositivo médico com um predicado, será difícil que a obtenção de resultado inferior ao produto predicado leve a aprovação do produto do mercado. Porém, não é por que o produto apresentou resultado inferior ao predicado para um ou alguns ensaios, que ele não será seguro para o uso clínico.” Na opinião de Heitor, a norma deve retirar a condição preferencial, permitindo a comparação dos resultados dos ensaios com dados obtidos na literatura como um método tão legítimo quanto o primeiro. “Ao meu ver e sob uma ótica regulatória, seria a melhor maneira”. Quando a norma será publicada Como a norma ainda está em fase inicial de revisão, não há previsão para a sua publicação e nem sabe-se se o texto final se manterá como se encontra hoje. Para os especialistas e estudiosos da área, é possível participar das votações e opinar na elaboração de normas ISO através da participação nas reuniões mensais das comissões de estudo de implantes para cirurgia do comitê odonto-médico-hospitalar da ABNT (ABNT CB-26). As reuniões acontecem mensalmente em São Paulo, com transmissão e possibilidade de participação online. Para mais detalhes, consulte a secretaria do CB-26 clicando aqui. MSC MED A MSC MED envia especialistas para os principais fóruns de discussão normativa do Brasil e do mundo, como ABNT, ASTM e ISO. Essas atividades beneficiam nossos clientes na previsão de impacto regulatório das discussões e decisões técnicas tomadas no âmbito normativo e na assertividade das avaliações pré-clínicas elaboradas pelo nosso time. Conte conosco para estar sempre bem orientado e avaliar os seus produtos com os entendimentos mais atualizados do setor.
Qual a classe de risco dos Fios de Kirschner?
Fios de Kirschner, ou Fios K, consistem basicamente de um fio metálico com uma pequena rosca na extremidade, e foram introduzidos na medicina em 1909 por Martin Kirschner. A função original dos Fios de Kirschner é de fixar fragmentos ósseos, sendo utilizados até hoje nessa função, primordialmente em conjunto com placas ósseas. Contudo, atualmente esses fios metálicos também são utilizados em outra função, que se tornou até mais comum. Eles são usados como fios-guia para cirurgia, auxiliando na inserção de parafusos canulados para a correta posição no tecido ósseo. Nesta função, estes produtos são considerados instrumentais cirúrgicos que apresentam contato invasivo com o paciente, mas que não ficarão implantados. Essas características se aplicam a produtos de Classe de Risco II. Contudo, para a primeira função, como implante, esses mesmos produtos são considerados como Classe de Risco III. Como interpretar? A Classe mais alta manda De acordo com os entendimentos mais recentes da ANVISA, e as medidas tomadas pela agência, tem sido aplicada uma visão de que a Classe de Risco mais alta manda. A interpretação seria que, uma vez que o fio está no hospital ou estabelecimento de saúde, a equipe médica não saberá diferenciar um Fio de Kirschner que foi considerado como Classe de Risco II (cadastrado) e um Fio de Kirschner que foi considerado como Classe de Risco III (registrado). Sendo assim, haveria o risco de se implantar um Fio que foi cadastrado e que não passou por uma análise mais rigorosa por parte da agência. Ensaios Mecânicos Sendo assim, os fios precisam ser ensaiados mecanicamente e ter seus laudos de matéria prima apresentados. A MSC MED pode ajudá-lo a elaborar um plano de ensaios, selecionar piores casos e a avaliar criticamente os resultados para registrar Fios de Kirschner. Conte conosco.
Insertos de Polietileno Reticulado (Cross-Link / XLPE) apresentam menores taxas de revisão?
Insertos de polietileno reticulado (XLPE – cross linked polyethylene) foram desenvolvidos com o objetivo de reduzir o desgaste em próteses articulares. A necessidade de cirurgias de revisão devido a complicações associadas ao desgaste do componente polimérico é um problema recorrente, principalmente em pacientes mais jovens e ativos. Por muito tempo, o padrão ouro do par tribologico destes produtos foi fabricado com polietileno convencional de grau médico (CPE – conventional polyethylene). O XLPE é definido como o CPE que foi irradiado com, ao menos, 50 kGy de radiação gamma, beta ou de feixe de elétrons. Esse tratamento induz a reticulação entre moléculas de polietileno, melhorando a resistência ao desgaste. Mas, será que o polietileno reticulado resolveu o problema de desgaste? E, se resolveu, não introduziu novos riscos? Taxas de cirurgias de revisão: XLPE vs CPE Um estudo australiano, dos mais completos já realizados sobre o tema, indicou que próteses de quadril com insertos de polietileno reticulado (XLPE) reduzem substancialmente o risco de cirurgia de revisão após artroplastia total de quadril em comparação com próteses utilizando polietileno convencional (CPE). O uso do XLPE resultou em uma redução significativa na taxa de revisão em 16 anos de acompanhamento de artroplastias totais de quadril para osteoartrite. As próteses com insertos convencionais levaram a taxas de revisão até três vezes maiores. Estudos anteriores já haviam sugerido que próteses de quadril que utilizam insertos de XLPE eram menos propensas ao desgaste do que as com revestimento em CPE. Contudo, os dados provenientes deste estudo proporcionam um acompanhamento mais longo em relação ao risco de revisão, dados importantes para subsidiar o médico e o paciente na tomada de decisão. O estudo incluiu mais de 240.000 pacientes entre 1999 e 2016. Próteses com um inserto de XLPE foram utilizados em aproximadamente 199.000 procedimentos, enquanto próteses com CPE foram usadas em 41.000 procedimentos. Então, o XLPE é superior em todos os sentidos? O processo de reticulação, embora melhore a resistência ao desgaste, prejudica certas propriedades mecânicas, deixando os implantes mais propensos a fraturas por fadiga. A irradiação de polietileno gera radicais livres que podem reagir com o oxigênio, potencialmente comprometendo o desempenho mecânico a longo prazo. De fato, a quebra de dispositivos de XLPE tem sido descrita constantemente na literatura, em particular quando foram usados em projetos antigos de mecanismos de travamento. Esse modo de falha não acontecia com insertos de CPE. Assim, o mal posicionamento do componente acetabular, com a concentração de tensões e possibilidade de impactos associados, é um fator de maior risco para o XLPE. Além disso, o benefício de usar XLPE se restringe à próteses de quadril, não sendo aplicável em sua “colega”: a prótese de joelho. A articulação do quadril é esférica e altamente conforme, e por isso o desgaste abrasivo e adesivo são os mecanismos característicos. Já a articulação do joelho, com seus movimentos deslizantes e rolantes, é menos conforme e cria tensões de contato e cisalhamento não presentes no quadril. Sendo assim, o XLPE não possui vantagens – pelo contrário, possui maior risco – quando comparado ao CPE em artroplastia do joelho. MSC MED: Inteligência de mercado em dispositivos médicos O estudo citado mostra que, na Austrália, uso de insertos de XLPE em artroplastias de quadril aumentou drasticamente nos últimos anos: de aproximadamente 9% dos implantes em 2000 para 97% em 2016. Quem, à época, investiu no desenvolvimento e Validação desta tecnologia saiu na frente e ganhou mercados. Nos Estados Unidos, utilização de CPE veio decrescendo a cada ano até alcançar uma porcentagem negligenciável no Registro Americano, sendo que a média de idade dos pacientes que recebem esse tipo de prótese é de 79 anos. A MSC MED é especialista na avaliação de desempenho de dispositivos médicos e acompanha os trends do mercado com foco na segurança e eficácia dos produtos. Conte conosco para a avaliação de novas tecnologias com foco na inserção do produto no mercado. Referências ODT AJRR – American Joint Replacement Registry. Fourth AJRR Annual Report on Hip and Knee Arthroplasty Data. Rosemont, IL, EUA. 2017. Zagra, Luigi, and Enrico Gallazzi. “Bearing surfaces in primary total hip arthroplasty.” EFORT Open Reviews 3.5 (2018): 217-224 Sakellariou, Vasileios I., et al. “Highly cross-linked polyethylene may not have an advantage in total knee arthroplasty.” HSS Journal® 9.3 (2013): 264-269.
Os principais modos de falhas de placas de fixação interna para membros inferiores.
Conforme mostramos nesse post aqui, as fraturas ósseas geram grande preocupação para a saúde pública e a principal forma de tratamento é através do uso de placas de fixação interna. Para a avaliação pré-clínica de produtos médicos, é necessário mapear os principais modos de falha apresentados pelos produtos como parte de um sistema de gerenciamento de riscos. Por esta razão, estamos fazendo uma série de posts baseados em um artigo que reuniu as principais causas de falhas em placas ósseas. Desta vez vamos falar dos modos de falha em membros inferiores. MEMBROS INFERIORES Osteotomia Alta da Tíbia O procedimento de Osteotomia Alta da Tíbia ocupou o segundo lugar em ocorrência de falhas em placas, apresentando uma alta taxa de fraturas secundárias à fixação de placas anatômicas. Foram encontradas taxas significativas de complicações, que incluíam pseudoartrose, fratura do córtex lateral da tíbia e perda da correção. Diante disso, a utilização de placas mais longas e maiores nestes procedimentos, por sua maior estabilidade tanto a forças de compressão quanto de torção, é recomendada. Fraturas Distais do Fêmur Na avaliação de fraturas distais do Fêmur foram encontradas muitas falhas de placas anatômicas. A quebra da placa, principalmente ao nível da fratura, o afrouxamento de parafusos da porção proximal, e a quebra de parafusos da porção condilar do implante foram os modos de falhas mais frequentes dos casos encontrados. Possíveis desvantagens do uso destes dispositivos para o tratamento de fraturas distais de Fêmur incluem a dificuldade na redução do componente metafiseal-diafiseal e na colocação precisa do componente fixador. Além disso, sua utilização é tecnicamente exigente pois a redução da fratura e sua fixação precisam ser obtidas e realizadas simultaneamente. Fraturas Periprostéticas do Fêmur Apesar desta revisão ter encontrado poucas falhas de placas anatômicas usadas para o tratamento de fraturas periprostéticas do Fêmur, este grupo respondeu pelo maior número de quebras de placas, 45,83%, dentre todas as falhas para este evento. O mecanismo causador desta falha estaria relacionado à qualidade óssea do paciente, configuração da fratura e às condições dos tecidos adjacentes (partes moles). Estudos advertem sobre o aumento no risco de quebra dos implantes em fixações excessivamente rígidas, com o uso de muitos parafusos, devido à concentração de tensão na área da fratura. Além disso, a presença de fatores de instabilidade medial, como algumas configurações de fratura ou na presença de defeitos ósseos, são situações para se considerar o uso de enxertos de suporte para o córtex medial do Fêmur, a fim de aumentar a estabilidade e reduzir o estresse sobre a região fraturada. Fraturas Trocantéricas do Fêmur As falhas de placas reportadas nas fraturas trocantéricas do fêmur possuem mecanismos similares às falhas em fraturas periprostéticas. Isto é, configuração da fratura, qualidade óssea e qualidade dos tecidos adjacentes. Além disso, uma quantidade significativa de falhas por entortamento e quebra de placas em fraturas subtrocantéricas em espiral e em três partes foi encontrada. Avaliação dos nossos especialistas Avaliando os dados obtidos nos artigos científicos especializados, notamos que, para membros inferiores, o modo de falha que mais ocorre é fadiga e consequente ruptura da placa ao nível da fratura. A quebra das placas aconteceu com mais frequência nos dispositivos utilizados para o tratamento de fraturas distais do Fêmur, seguido pelas fraturas periprostéticas e trocantéricas do fêmur. A região do fêmur é uma das regiões do corpo onde as cargas cíclicas são mais elevadas, em conjunto com a região da coluna lombar. Este mecanismo de elevada carga, juntamente com possíveis dificuldades da equipe médica causadas pela complexidade de algumas situações, são as causas que mais direcionam à falha em placas implantáveis localizadas em membros inferiores. O modo de falha por ruptura da placa é característico de fenômeno de fadiga, o que pode ser causado por sobrecarga cíclica na placa em relação ao que foi previsto no projeto, ou por defeitos de fabricação. Já o modo de falha por entortamento, conforme identificado nas fraturas trocantéricas, por exemplo, é causado por sobrecarga em único ciclo, que pode ter como origem o impacto ou quedas do paciente. Gerenciamento de Riscos Em um sistema de Boas Práticas para desenvolvimento e fabricação de dispositivos médicos, é necessário que seja implementado um sistema de gerenciamento de riscos. Dentro desse sistema, o levantamento das causas de falha mais comuns é tido como um dos principais parâmetros de entrada. Isso é cobrado por diversas agências reguladoras, como por exemplo a ANVISA, que na RDC 56/2001 (Requisitos Essenciais de Segurança e Eficácia de Produtos para Saúde) atesta que o fabricante “deverá estabelecer, documentar e manter durante o ciclo de vida do produto, um processo contínuo para identificação das potenciais fontes de dano associados ao material de uso em saúde, estimando e avaliando os riscos associados”. Conte Conosco A MSC MED auxilia diversos fabricantes, importadores, desenvolvedores e multinacionais do ramo de dispositivos médicos implantáveis para ortopedia no levantamento de potenciais riscos e no tratamento destes, por meio de protocolos de validação pré-clínica. Esse trabalho é realizado com o objetivo de obter a aprovação pré-mercado dos dispositivos no mercado brasileiro e internacional. Referência ESPERIDIÃO, Alexandre Batista et al. MODOS DE FALHAS DE PLACAS ANATÔMICAS EM FRATURAS DE OSSOS LONGOS.In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA BIOMECÂNICA, 6., 2018. Águas de Lindóia: Abcm, 2018.